terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Carro é luxo?

Comprar um segundo ou terceiro automóvel pode ser a decisão que faltava para desequilibrar o orçamento de casa


Ter um carro na garagem, na maioria dos casos, é importante. Ele pode ser usado em momentos de extrema necessidade, como emergências, e para percorrer grandes distâncias, e também para o seu conforto, como viajar com a família no final de semana. Atualmente, com a facilidade para conseguir financiamento para veículos, muita gente pode ficar animada a aumentar a frota.

Em um ano, as despesas de um carro chegam a um terço do seu valor

A pressão é grande. Vem de fora, com o transporte público abarrotado em horários de pico nas grandes capitais associado à poluição sonora e visual, e de dentro de casa: os filhos chegam à maioridade e querem ganhar seu próprio carro. No entanto, antes de correr para uma concessionária e descobrir que as prestações cabem direitinho no seu bolso, é preciso lembrar que, independentemente de comprar à vista ou financiado, um carro traz consigo despesas operacionais. Em um ano, essas despesas podem chegar a um terço do custo de um carro novo.

Em alguns casos, até a metade do valor do veículo. "Tudo bem comprar um carro, mas é preciso ter consciência de que em três anos os gastos vão equivaler ao preço de um veículo zero quilômetro. Ou dois carros zero quilômetro, caso seja financiado", diz Reinaldo Domingos, educador e terapeuta financeiro da consultoria Disop, em São Paulo. A dica para quem vai comprar um carro financiado é pegar o valor que se supõe suportar em seu orçamento e multiplicar por 0,66 (por exemplo: 1 000 reais x 0,66 = 660). Esse valor será o máximo que a pessoa deverá comprometer com as prestações mensais do veículo.

"A diferença será usada para arcar com as despesas do dia a dia, que surgem como bola de neve", explica Reinaldo Domingos. O empresário paulista Bruno Yoshimura, de 23 anos, proprietário de uma agência produtora de sites, sabe muito bem quais são essas despesas. Inconformado com o salário que não durava até o fim do mês, ele decidiu colocar na ponta do lápis todas as suas despesas.

Ele descobriu que o carro era o maior devorador do seu patrimônio, mesmo tendo comprado o veículo à vista. "No começo você pensa: muitas das despesas são somente uma vez por ano. Só que além das despesas fixas, como o seguro (que já é mais caro para jovem) e o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), é necessário dinheiro para combustível, estacionamento, lavagem e manutenção do carro. No final, meus gastos mensais chegam perto de 1 000 reais", diz Bruno. Ele acrescentou nessa conta alguns gastos imprevistos. "Em um ano já bateram na traseira, levei multa e furei um pneu", diz.

Como saber, então, a hora certa de comprar um carro? Independentemente se a pessoa já possui um veículo ou não, ela precisa refletir o que um modelo novo vai representar na sua vida. E caso já tenha um carro, se os gastos de dois veículos não são arriscados demais. "Carro não é investimento, pois ele já sai da loja perdendo 10% do seu valor, é um bem de consumo de altíssimo custo. Portanto, ele deve estar associado a necessidades reais, e não a impulsos apenas por status", diz Reinaldo Domingos, educador financeiro.

FINANÇAS PURAS
Sob o ponto de vista puramente financeiro, os analistas são unânimes: se for apenas para fugir do rodízio, ir e voltar do trabalho ou eventualmente levar os filhos a algum lugar "ou seja, quando o carro não é um meio essencial de sustento da família", é mais adequado mesclar o uso de táxi e transporte público. Pelo menos até o profissional atingir certa estabilidade no trabalho e conseguir ter dinheiro suficiente que garanta a manutenção de alguns luxos como, por exemplo, não apenas bancar o seu próprio carro, mas também os dos filhos.

"Conheço executivos que não têm nenhum pudor de dizer que andam de metrô. Mas também conheço executivos com carros fantásticos, que transmitem aquela imagem de bem-sucedido, mas que no fundo são extremamente endividados. Eles estão comprometendo o futuro da saúde financeira familiar", diz o consultor Ricardo Fairbanks Cacciaguerra, da consultoria Dinheiro em Foco, de São Paulo, que trabalha na área financeira há mais de oito anos. Ricardo ressalta que se o profissional necessita realmente parcelar a compra de um carro acima de 12 vezes, ele deve repensar o tipo de veículo que precisa para o dia-a-dia.

Em alguns casos usar ônibus, táxi ou metrô sai mais barato

"Escolha um modelo menos luxuoso e pague à vista. Se você não recebe 2,5% de juros ao mês em uma aplicação em que invista suas economias, por que está disposto a pagar essa porcentagem para uma concessionária?", pergunta Ricardo. Decidida a compra, é necessário peregrinar comparando concorrentes. "Não é só entre as marcas e concessionárias. Você já pesquisou o valor do seguro do automóvel? Em quantas seguradoras? A diferença de preços pode chegar a 60%”", diz Ricardo Cacciaguerra.



fonte: Bruno Vieira Feijó (redacao.vocesa@abril.com.br)

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