As últimas notícias sobre o crack são alarmantes. O abuso desse tipo de droga já se tornou uma epidemia, do Oiapoque ao Chuí. Alguns usuários não têm noção de que a droga chega ao cérebro em cerca de 10 segundos e os resultados desse “barato” aparecem em muito pouco tempo – perda total da capacidade cerebral. Essa é uma das suas artimanhas, além do efeito rápido e o custo menor do que maconha ou cocaína. Quanto maior o consumo, mais corrompido esse centro de prazer. E o “day after”, certamente não é nada glamouroso, ao contrário, o corpo exige cada vez mais a ativação desse prazer.
Tudo isso eu já sabia, mas, o que me fez chocada foi tomar conhecimento de como os pais dos usuários convivem com essa tragédia. Psiquiatras dizem que a família precisa desconfiar de atitudes suspeitas dos jovens. Muito bem, e daí? Quais são os instrumentos necessários para que pais, irmãos, tios, avós e amigos ajudem uma pessoa querida que estão desmoronando à sua frente?
Foi esse tipo de pergunta que me fiz ao ler o livro “Sininho Envenenada” (Rio de Janeiro: Outras Letras, 2006), baseado nos diários de um pai e sua filha usuária de drogas, revelando o drama vivido por toda a família na luta contra as drogas e a busca de uma saída. Os altos e baixos da filha Graciela, usuária dos 15 aos 22 anos, nos mostra um outro mundo que pode estar sendo vivido por nossos filhos também.
Há poucas semanas, lemos o desabafo do um pai emocionado, o produtor cultural Luiz Fernando Prôa, que entregou o seu filho à polícia após ele ter estrangulado e matado sua namorada. Ele só tem 26 anos e certamente não terá uma carreira de sucesso como outros filhos de milhares de brasileiros. Alguns matam aos 19 anos ou aos 15 anos. Geralmente pessoas queridas, da família. E a resposta para isso, eu descobri no livro acima, é que os adictos (uma pessoa cuja vida é controlada pelas drogas) não amam ninguém, a não ser as drogas!
Não adianta ficar horrorizado, estarrecido e desesperado com as notícias diárias sobre os crimes e castigos desses jovens. Como cidadãos, precisamos cobrar soluções para nossos governantes, mas também ajudar essas famílias no sentido de dificultar o uso da droga por seus filhos. A internet é o meio de comunicação mais usada pelos jovens? Proponho fazer dela uma agressiva ferramenta com campanhas sistemáticas e eficientes para divulgar as trágicas conseqüências dessas e outras drogas. Vamos denunciar os pontos de vendas, os traficantes, os locais mais fáceis de consumo, as conivências policiais...
Faço um apelo aos atores, cantores, tele novelistas, apresentadores, radialistas, jornalistas, enfim, todos que trabalham ou estão ligados à mídia, que exponham suas opiniões e tornem público os problemas de pais e filhos que convivem com as drogas. Talvez assim seja possível acordar uma população adormecida, anestesiada e quase cega. Fazer protesto contra as leis e a falta de amparo governamental não é o bastante. A hora é de união, conhecimento e muita dose de solidariedade para com todos os envolvidos nas drogas. Importante agora é saber mais sobre o assunto através de livros, artigos científicos e opiniões de especialistas. Assim cada um de nós pode ser um porta-voz da luta contra as drogas.
Na edição de 5 de abril de 2006 da revista Veja, Lya Luft declara “nós todos somos culpados de que eles tenham existido, sofrido, matado e morrido, sem nenhuma possibilidade de vida, de esperança e de dignidade.” Eu não quero ver meu filho morto, nem atrás das grades. E você?
Liz Boggiss, jornalista e assessora de imprensa.