Por Nelson Vasconcelos
Um discreto cartaz tem intrigado clientes do simpático sebo Luzes da Cidade, em Botafogo. Diz simplesmente: “Compramos Kindles usados”. Um sebo comprar leitores eletrônicos não seria um curioso sinal dos tempos? Pena que não seja bem assim. Em princípio, trata-se de uma brincadeira. “Mas é o tal negócio: se colar, colou”, diz o gerente da casa, Francisco Neiva.
No e-Bay americano há várias ofertas de leitores eletrônicos usados; no Mercado Livre brasileiro, quase nada. Ninguém ainda se candidatou a vender um Kindle para o Luzes da Cidade. Mas esse negócio vai acabar surgindo por aqui. Afinal, a tecnologia avança, seus fãs rapidamente se atualizam, e as máquinas se tornam aparentemente obsoletas em pouco tempo. E ficam valendo quase tanto quanto um livro usado..
Nos EUA, o mercado de e-readers (ou seja, os livros eletrônicos como o Kindle) está fazendo mais uma vítima de peso. Semana passada, a rede de livrarias Barnes & Noble anunciou que está à venda. É um colosso, criado em 1917, que hoje mantém 720 lojas em 50 estados, com 40 mil funcionários. Há dez anos, valia US$ 2,2 bilhões; hoje vale cerca de US$ 1 bilhão – com viés de baixa, ao sabor das bolsas.
A B&N chegou a lançar há cerca de um ano, seu próprio e-reader, o Nook. Muito simpático, leve, não convenceu o mercado. Mereceu um auê inicial, mas parece que não decolou.
Na outra ponta está a grande inimiga das livrarias tradicionais. No reino dos e-readers, a Amazon e seu Kindle estão fazendo bonito. Em dez anos, seu valor de mercado subiu de US$ 2,7 bilhões para US$ 55 bilhões – não apenas por causa do Kindle, claro. E, como já comentado, hoje vende mais livros digitais do que exemplares de capa dura.
O mercado brasileiro, como sempre, é bem mais atrasado que o americano. Mas não custa ficar de olho no que acontece lá fora. Para copiar acertos e tentar evitar erros. Ou o contrário, como pode acontecer...
Semana passada, no pavilhão de empresas chinesas da PhotoImageBrazil (com Z), fui apresentado a algo parecido a um iPad. Naturalmente, made in China... Fabricante: Pilot Technology.
Pelo pouco que vi, parecia uma boa máquina, rapidinha, rodando Linux (!) e aplicativos bem interessantes. Comecei me interessar pelo produto quando o chinês viu meu crachá de imprensa. Ele rapidamente recolheu a máquina e começou a falar em mandarim contemporâneo, chio de gírias e palavras feias. E me tirou das mãos o iPad de mentirinha. A semelhança com o legítimo é total.
Podemos apostar no seguinte: muito em breve, haverá num camelô perto de você um iPad que, certamente, sairá bem mais em conta que o original. Quer apostar?
Publicado no dia 10/08/2010, coluna Conexão Global, caderno Economia do jornal O Globo.
nelsonva@oglobo.com.br
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