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prosaonline@oglobo.com.brFlip 2010: Darnton e Makinson afirmam: 'O livro não morreu e nem vai'
O segundo dia de debates da 8ª Festa Literária Internacional de Paraty começou com a continuação da discussão do futuro dos livros. Novamente, o historiador e diretor da biblioteca de Harvard Robert Darnton subiu ao palco da Tenda dos Autores para refletir, desta vez ao lado de John Makinson, CEO da editora Penguin Books, e da mediadora Cristiane Costa, sobre os destinos da palavra escrita e continuar o papo sobre o ambicioso projeto de digitalização de livros do Google, o papel do editor neste novo mercado e as infinitas possibilidades de interação de mídias nos e-books. O aprimoramento e a popularização destas tecnologias estaria levando o mundo dos livros uma nova era, em que se vive a emergência da chamada quarta tela que, depois da televisão, do computador e do celular, pertence aos tablets.
Diante de uma plateia interessada, que por várias vezes vibrou com as opiniões expostas na palestra, Darnton foi categórico ao afirmar que vê muito futuro à frente da literatura e que livros tradicionais e digitais podem coexistir pacificamente.
- O rádio não matou o jornal, a TV não matou o rádio. É claro que o futuro é digital, mas o livro não morreu e nem vai. Neste ano serão publicados 1 milhão de livros em todo mundo, só estamos passando por uma transição.
Por sua ligação com as questões de mercado, Makinson acabou sendo questionado sobre os métodos que as editoras estrangeiras vêm buscando para não enfrentar uma crise similar à que afetou a indústria fonográfica, reduzindo a venda de CDs em até 70% nos últimos anos.
- Há uma grande diferença entre o mercado musical e o de livros. Com a era digital, o consumidor viu que era possível comprar apenas uma música, mas ninguém vai chegar em uma livraria e comprar apenas um capítulo de um livro. As pessoas podem ter 35 mil músicas num iPod, mas não faz sentido terem 35 mil livros num e-reader - explicou o convidado, que além de publisher, é dono de uma pequena livraria independente na Inglaterra. - Diferentemente da indústria fonográfica, a impressão ilegal ainda não afeta as vendas de livros.
Outro ponto importante da discussão atual sobre o processo de digitalização de livros é o Google Books, projeto do qual Darnton é crítico ferrenho.
- Admiro o Google e acho excelente que o Google Books tenha 2 milhões de livros em domínio público para o livre acesso, mas é inaceitável o projeto deles de pegar os livros de bibliotecas como a de Harvard, digitalizar e cobrar de nós o acesso a este acervo que é de pesquisa. E isso me preocupa, é a privatização do conhecimento e um monopólio comercial - disse o historiador, arrancando aplausos da plateia da Flip.
Para uma mesa que tratou de assuntos como a morte do livro, do autor, do jornal e até das bibliotecas, a previsão sobre aquilo que ainda vai ser escrito, publicado e lido foi bastante otimista. Para a dupla de debatedores, autores e editores têm muito a ganhar com a transição literária do papel para o meio eletrônico e as possibilidades de integração com áudio, vídeo, realidade aumentada e hipertexto.
- Quanto mais disponível um livro está, mais ganha o autor. O editor, quando compra os direitos sobre uma obra, recebe os direitos para publicá-los na forma digital e física. O papel do editor não vai morrer. Pelo contrário, tende a aumentar com o as possibilidades de integração de conteúdo. Nós, os editores, temos que desenvolver ferramentas e capacidades para tirar vantagem deste negócio. Temos a chance de experimentar e enriquecer o leitor - disse Makinson.
Para Darnton, os editores ainda têm o importante papel de proteger os direitos dos autores.
- Com a tecnologia, é fascinante perceber que os autores podem dialogar com os leitores diretamente. Mas devemos proteger os direitos dos autores no meio digital, eles merecem ser recompensados pela propriedade intelectual de suas obras.
Segundo os debatedores, o e-book, que não conta com despesas de impressão, estocagem e distribuição, ainda precisa buscar um modelo econômico viável. Métodos como o da subscrição, semelhante o das TVs por assinatura, são possíveis, mas não suficientes, segundo Makinson.
- Acho que há mercado para a subscrição, como no caso de uma pessoa pagar para baixar uma coleção inteira de livros clássicos, mas não sei se esse modelo vai se tornar regra pois as pessoas vão continuar querendo comprar livros 'a la carte', de acordo com interesses específicos.
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