terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Hollywoode e o Apocalipse

Hollywood e o apocalipse por Paulo Lima

NO Ciclo Comunicar Cultura
Paulo Lima, jornalista, colunista de Plurale e editor da revista virtual Balaio de Notícias

Depois de explorar o filão – ou o vilão – do aquecimento global em filmes como ‘O dia depois de amanhã’, Hollywood volta ao tema do fim do mundo com o filme ‘2012’, do diretor Roland Emmerich. Dessa vez, cumpre-se uma profecia maia, que prevê o ano de 2012 como o prazo fatídico para a extinção do planeta provocada por cataclismos.

Como filme-catástrofe, ‘2012’ parece ter batido todos os recordes de destruição. Simplesmente o planeta inteiro, ou quase todo ele, desaparece tragado por violentos terremotos e tsunamis gigantescos.

O antropólogo italiano Maximo Canevacci escreveu certa vez que o cinema americano se sustenta numa fórmula maniqueísta. E clichês maniqueístas não faltam em ‘2012’. De um lado, o amante bonzinho, o cientista bonzinho, as crianças boazinhas, o religioso tibetano bonzinho. Do outro lado, os maus. O bilionário russo mau e egoísta preocupado apenas com a própria sobrevivência e dos seus filhos. O político de alto escalão mau, que está pouco se lixando para os que ficarão para trás e serão mortos.

O show de efeitos especiais não basta para nos fazer digerir a arrematada coleção de clichês e lugares comuns que permeiam o filme, tão óbvios que saltam aos olhos.

E naturalmente lá estão os ditames do politicamente correto: na figura do cientista negro que luta desesperadamente para chamar a atenção dos políticos para o fim iminente do planeta. Na figura do presidente igualmente negro, encarnado por Danny Glover, que prefere ficar e enfrentar a tragédia com estoicismo. Em sua mensagem final, ele prega a força da união e da solidariedade como expressões da sobrevivência. Alguém pensou no multiculturalismo obâmico?

No filme, o mundo explode em pedaços. O que antes era o território dos Estados Unidos se desintegra rapidamente graças a uma sucessão de terremotos e maremotos. Enquanto isso, o Air Force One voa para a China transportando um grupo de pessoas privilegiadas que embarcarão em naves capazes de sobreviver ao impacto dos tsunamis. Em território chinês, ao se deparar com as bases construídas pelos chineses, a autoridade que assume o lugar do presidente não evita um comentário: “Só mesmo os chineses para conseguir isso”. Não é uma pérola de política da boa vizinhança?

No filme, John Cusack, um dos protagonistas, faz o papel de um escritor que luta pelo sucesso. Nada que se compare a sua interpretação em ‘Alta Fidelidade’. Mas ele não está sozinho. O elenco passa ao largo de qualquer boa interpretação, exceção talvez à atuação de Woody Harrelson como o típico maluco americano prognosticando o fim do mundo. Mesmo carregando no caricatural, é o personagem mais interessante. A cena em que ele - tomado por um frenesi apocalíptico - é tragado por uma erupção gigante em meio ao parque Yellowstone é o que o filme tem de melhor.

‘2012’ combina de certa forma elementos do cinema-catástrofe com o cinema de aventura. Algo entre ‘Indiana Jones’ e ‘Independence Day’ (por coincidência, também dirigido por Roland Emmerich). A alusão está especialmente presente na sequência da fuga espetacular em que John Cusack escapa milagrosamente da destruição de Los Angeles a bordo de um frágil teco-teco, ao lado dos filhos, da ex-mulher e do amante desta.

A África é a única região da terra que permanece incólume à destruição. A alegoria é muito óbvia, não?

Assim como a mãe África é o símbolo da redenção, a velha Rússia, com seu bilionário caricato, é a manifestação dos interesses egocêntricos e da riqueza duvidosa. Para completar o clichê geográfico, não poderia faltar a Índia. É lá que um obscuro e jovem cientista dá o alerta inicial para a catástrofe que vai destruir a Terra. Até mesmo o Brasil – representado pelo Rio de Janeiro, onde mais? - aparece numa pontinha do filme como um dos pontos conturbados pela catástrofe.

No fim de tudo, ‘2012’ é apenas um gibi com muita ação. Com ou sem pipoca. Nada mais. Filmes como ‘2012’, incrível, conseguem nos fazer sentir saudade de ‘Tubarão’, de Spielberg, que deu prosseguimento ao ciclo dos filmes-catástrofe, iniciado com ‘Terremoto’ e ‘Juggernaut’, em 1974.


O artigo foi anteriormente publicado em Plurale em site.


Paulo Lima é jornalista, colunista de Plurale e editor da revista virtual Balaio de Notícias.


fonte: http://www.nosdacomunicacao.com/

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