Boas notícias no Morro do Adeus
Renê Silva, de 16 anos, cria jornal e ajuda a resolver problemas da
comunidade onde mora
Lauro Neto
lauro.neto@oglobo.com.br
Antes mesmo de a entrevista começar, Renê Silva quis saber "quantos
caracteres teria a coluna".
Ou, traduzindo o jargão jornalístico, qual seria o espaço destinado a ele
nesta reportagem.
O moleque entende do que fala.
Aos 16 anos, estudante e morador do Morro do Adeus, no Complexo do Alemão,
ele é repórter, fotógrafo, redator, editor e colunista do "Voz da
comunidade", jornal que criou há quatro anos para denunciar os problemas da
sua região.
- Pensei que o jornal poderia ser um meio de comunicação para os moradores.
Conversei com a diretora do colégio, e ela autorizou que eu tirasse cópias
para cem exemplares de quatro páginas - lembra Renê.
Hoje, o jornal tem 16 páginas e 35 anunciantes fixos, que pagam entre R$ 25
e R$ 90, o que permite ao editor imprimir cinco mil exemplares por mês numa
gráfica que também virou patrocinadora. A distribuição é feita com a ajuda
de primos e amigos. O sucesso e a credibilidade conquistados junto aos
comerciantes locais são reflexo das melhorias alcançadas no Morro do Adeus
através das reportagens em que Renê dá voz aos moradores e cobra o
cumprimento de suas reivindicações pelos órgãos públicos.
Pode ser desde o fechamento de um buraco até a ajuda em uma situação
emergencial.
- Geralmente são reclamações de moradores sobre asfalto, esgoto e luz. Uma
vez, a casa de uma moradora foi inundada por uma enchente, e ela perdeu tudo
o que tinha, inclusive o bar onde trabalhava. Tenho orgulho de ter
registrado aquele momento difícil. Através da divulgação dessa informação,
ela conseguiu doações e voluntários para ajudá-la a remontar a casa - conta
Renê.
Mas o jornal também tem espaço para empreendedores da comunidade, receitas
culinárias, piadas e promoções em que leitores podem concorrer a
vales-compras de R$ 100 num supermercado da região, uma prancha de cabelo ou
uma câmera digital. Com a ajuda do jornal, Renê conseguiu comprar a máquina
fotográfica e o computador que são seus instrumentos de trabalho.
- Ainda estou pagando as prestações - ressalva. - Meu sonho é ganhar uma
bolsa numa faculdade de Jornalismo e seguir minha carreira. Acho que o
William Bonner sabe transmitir bem as informações e me inspiro nele. Prefiro
TV, mas vamos ver com o tempo.
Enquanto isso, ele ajudou a criar o jornalzinho do Colégio Estadual Lélia
Gonzales, em Ramos, onde cursa o 1º ano do ensino médio, e dá palestras na
rede estadual sobre sua iniciativa. Questionado se o cotidiano de violência
no Alemão não atrapalha o seu trabalho, o estudante é franco: - Não me
afeta. No jornal nunca saem reportagens sobre polícia ou bandidos. Agora que
as obras do PAC começaram, estão saindo mais matérias em que operários falam
da importância de trabalhar na mudança da comunidade e de ter um salário
melhor.
Rene Silva - Jornal Voz da Comunidade
E-mail: rene_silva@jvozdacomunidade.com.br
Tel: 3888-6660 Cel: 8538-2161
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