quinta-feira, 26 de novembro de 2009

ALERTA; 113 mil escolas brasileiras sem bibliotecas

Presidente da CBL enumera dois grandes problemas em relação ao acesso aos livros e à leitura no País

No comando de uma das instituições de maior prestígio no mundo da cultura, a editora Rosely Boschini, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL) pela segunda vez, não tem dúvidas sobre os avanços obtidos no País durante a atual década no que diz respeito ao acesso aos livros e à leitura. Prova disso, diz, é o crescimento dos índices de leitura apontados pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil e os 95 milhões de leitores espalhados pelo território nacional. Mas ela enumera pelo menos dois grandes problemas: a baixa adesão de estados e municípios aos planos estaduais do livro e leitura e, mais grave ainda, a existência de nada menos do que 113 mil escolas sem biblioteca. Acompanhe a entrevista concedida pela presidente à Agência Brasil Que Lê

O Brasil está prestes a completar a primeira edição trienal (2006/2009) do seu primeiro Plano Nacional do Livro e Leitura. Isso é bom para o País?
A iniciativa foi excelente, na medida em que abriu oportunidades para o amplo engajamento do setor público e de instituições da sociedade civil no objetivo de estimular a leitura. No entanto, acredito que a principal meta prevista para 2009 — o fomento à criação dos planos estaduais e municipais — tenha ficado aquém das demandas do País quanto ao livro. É preciso maior proatividade e envolvimento de estados e municípios.

O que o País avançou na atual década e, particularmente, nos últimos anos?
Creio que seja possível dimensionar essa evolução em termos mais concretos por meio da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, entidade criada pela CBL, Snel e Abrelivros. Em sua última edição, o estudo identificou a existência de 95 milhões de leitores no País. Este público passou a ler, em sete anos, 4,7 títulos por habitante/ano. Este salto ocorreu em várias faixas importantes da sociedade, como, por exemplo, os jovens com mais de 15 anos e um mínimo de três anos de escolaridade (que leram 3,7 livros por ano, contra 1,8 apontado na pesquisa anterior). As estatísticas evidenciam que, em paralelo às indispensáveis políticas públicas, a mobilização da sociedade e do setor privado é imprescindível para inserir de modo pleno o Brasil na chamada sociedade do conhecimento.

O que ainda está por ser feito na área do livro e leitura?
Obviamente, o Brasil ainda precisa avançar muito em termos de inclusão social, distribuição de renda e educação, fatores exponenciais para que mais pessoas possam fazer da leitura um hábito cotidiano. O grande gargalo, contudo, é mesmo a educação, em especial no tocante à qualidade do ensino e estrutura das escolas públicas. Vejam este exemplo: dados do Censo Escolar 2008, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação, indicam que a falta de biblioteca é uma realidade em 113 mil escolas do Brasil. Isto é equivalente a 68,81% da rede pública! O problema não se limita à falta de livros. Em 2009, o orçamento federal para o envio de obras gerais à rede pública é de R$ 76,6 milhões. É um montante apreciável para as aquisições. Em 2008, as escolas receberam, em média, 39,6 livros cada uma, média muito razoável. E isto não inclui o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático). O que mais falta nas escolas é infraestrutura física de acessibilidade aos livros, ambiente adequado para leitura e pessoal capacitado para promoção e divulgação do hábito de ler.

Somam-se a esse problema os grilhões do analfabetismo, uma triste realidade para um a cada dez brasileiros. Em números absolutos, são cerca de 15 milhões os maiores de 15 anos que não sabem ler e escrever, de acordo com o IBGE. Mais grave ainda é que 21,6% dos habitantes com mais de 15 anos são analfabetos funcionais, ou seja, indivíduos que não entendem o que leem. Os dados, incompatíveis com um país que almeja o desenvolvimento, explicam em grande parte o porquê de mais brasileiros não lerem. Precisamos eliminar tais obstáculos, que transcendem ao universo do mercado editorial, pois dizem respeito ao quadro socioeconômico do País.

Que papel a CBL enxerga para si como um dos atores sociais de relevância na questão do livro e da leitura no País?
A CBL tem um papel preponderante de incrementar o setor editorial por meio de ações para difundir e estimular a leitura. Para cumprir de modo adequado essa missão, definimos estratégias amparadas no desenvolvimento do negócio do livro, ações políticas que garantam peso institucional equivalente à importância do setor para o País e apoio ao trabalho dos agentes da cadeia produtiva. Nossas responsabilidades estão explícitas, em termos práticos, nas ações que temos desenvolvido em conjunto com as demais entidades do mercado. A primeira evidência desse esforço e contribuição está na oferta de livros. No período 2006/2008, foram lançados 57 mil novos títulos e impressos mais de um bilhão de exemplares, conforme a pesquisa “Produção e Vendas do Mercado Editorial Brasileiro”, realizada pela Fipe/USP para a CBL e o SNEL. O estudo também aponta significativa redução de preços. Se considerarmos os valores reais, ou seja, já descontado a inflação, de 2004 a 2008 a queda do preço médio efetivo do período foi de 22,4% no segmento de obras gerais, por exemplo.


O fato de as entidades do setor terem reafirmado entendimento com o Ministério da Cultura para a criação do Fundo Pró-Livro também foi importante. O mercado editorial, cumprindo compromisso assumido há quatro anos, destinará um percentual de seu faturamento a essa finalidade. Há, ainda, duas iniciativas da CBL que apresentam consistente resultado: a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o principal momento do livro no Brasil, e o Prêmio Jabuti. Este, criado em 1959, chegou em 2009 à 51ª edição, contemplando 21 categorias e atingindo número recorde de inscrições, com 2.574 obras. Como se vê, o trabalho e o empenho são grandes para convertermos o Brasil em um país de leitores.

(Agência Brasil Que Lê)

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