quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Os desafios da espécie humana diantes das mundanças do clima

CLIMA: Os desafios da espécie humana diante das mudanças

Por Thalif Deen, da IPS

Nações Unidas, 19/11/2009 – Um informe da Organização das Nações Unidas sobre mudança climática apresenta uma nova perspectiva humana em relação a um debate centrado principalmente na eficiência energética e nas emissões industriais de carbono. A mudança climática é muito mais do que emissões de gases que provocam o efeito estufa, diz o estudo apresentado ontem pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Também é a dinâmica demográfica, a pobreza e a igualdade de gênero, acrescenta.

“Na medida em que a velocidade do crescimento demográfico, das economias e do consumo superarem a capacidade de ajuste da Terra, a mudança climática pode se tornar muito mais grave e, possivelmente, catastrófica”, adverte o documento “Estado da População Mundial 2009”. A diretora-executiva do UNFPA, Thoraya Ahmed Obaid, destacou que o dano ambiental é “um dos riscos mais injustos de nosso tempo. A pegada de carbono de milhares de milhões de pessoas mais pobres sobre a Terra é de 3% do total mundial, embora sejam os pobres, especialmente as mulheres pobres, que suportarão a desproporcional carga da mudança climática”.

Em um contexto de aumento da população mundial – que se aproxima dos sete bilhões de pessoas – há cada vez mais evidências de que a mudança climática é consequência, principalmente, da atividade das pessoas. “A influência da atividade humana sobre o clima é complexa; diz respeito ao que consumimos, ao tipo de energia que produzimos e utilizamos, se vivemos na cidade ou em uma fazenda, em um país rico ou pobre, se somos jovens ou velhos, o que comemos e, inclusive, na medida em que mulheres e homens desfrutam de igualdade de direitos e oportunidades”, diz o informe.

O estudo é divulgado pouco antes da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15), que acontecerá de 7 a 18 de dezembro em Copenhague. Um acordo internacional que ajude a reduzir as emissões de gases-estufa e que aproveite a perspectiva e a criatividade de mulheres e homens servirá para lançar uma estratégia mundial efetiva de longo prazo para abordar a mudança climática. Mas, em uma cúpula de líderes mundiais realizada na semana passada em Cingapura decidiu-se apostar somente em um acordo “politicamente vinculante” na capital dinamarquesa e esquecer do tratado legalmente vinculante, talvez até uma futura cúpula do próximo ano no México.

Consultado sobre o volátil cenário político, Richard Kollodge, editor do estudo do UNFP, disse à IPS: “Tenha, ou não, a conferência de Copenhague como resultado um tratado ratificável sobre mudança climática, o processo de trabalhar para um acordo global que estabilize o clima e enfrente os impactos continuará” por muito tempo. O UNFPA continuará promovendo o poder das mulheres, mediante a educação das meninas e maior acesso à saúde reprodutiva e ao planejamento familiar voluntário, acrescentou. Kollodge também disse que este informe terá relevância além de Copenhague.

Ao dirigir-se aos presentes na última cúpula da ONU sobre mudança climática, em setembro, a presidente da Finlândia, Tarja Halonen, centrou-se na perspectiva de gênero. “Sabemos que a mudança climática afetará mais seriamente as regiões mais pobres e os grupos humanos mais fracos”, afirmou. Aproximadamente 70% dos pobres do mundo são mulheres, e elas é que sofrerão mais os efeitos da mudança climática, acrescentou. “Ao ajudar as mulheres a sobreviverem em seus contexto cotidianos, também podemos promover os objetivos gerais do desenvolvimento sustentável”, ressaltou.

Halonen disse ainda que as mulheres serão poderosos agentes na mitigação da mudança climática. “Necessitamos garantir a participação plena e ativa das mulheres, tanto na redação quanto na implementação do novo acordo”, afirmou. Por sua vez, Obaid disse que o estudo do UNFPA mostra que as mulheres têm o poder de se mobilizar contra a mudança climática, mas este potencial só pode se concretizar mediante políticas que lhes deem poder.

Ampliando o debate, o informe diz que a mudança climática diz respeito aos seres humanos. “As pessoas causam a mudança climática. As pessoas são afetadas pela mudança climática. As pessoas devem adaptar-se a ela; e somente as pessoas têm o poder de enfrentá-la”, afirma o documento. A influência da mudança climática sobre as pessoas é descrita com “complexa”, já que dispara as migrações, destrói os meios de sustento, altera as economias, debilita o desenvolvimento e exacerba as desigualdades entre os sexos, acrescenta.

O estudo lista vários riscos relativos à mudança climática. Até 2075, entre três bilhões e sete bilhões de pessoas poderão enfrentar escassez crônica de água, e é possível que um em cada seis países padeça escassez alimentar a cada ano devido a secas severas. Além disso, 30% das espécies de plantas e animais podem se extinguir se o aumento das temperaturas globais superar os 2,5 graus. Mas, segundo as estimativas atuais, a temperatura mundial poderá aumentar até 6,4 graus no final deste século. E no mesmo lapso o nível do mar poderá subir até 43 centímetros, ameaçando a própria existência dos pequenos Estados insulares. (IPS/Envolverde)


Fonte:Envolverde/IPS

Nenhum comentário:

Postar um comentário