quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mudanças climáticas podem aumentar risco de migração de pessoas

Cerca de 200 milhões de pessoas podem migrar até 2050

Por Paula Laboissière, da Agência Brasil

O Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) alertou para o risco de aumento das migrações por conta das mudanças climáticas.


O Fundo lançou na quarta-feira (18/11) – em Brasília e em outras 120 cidades no mundo simultaneamente – o relatório "Situação da População Mundial 2009", que estima que até 2050 cerca de 200 milhões de pessoas podem ter de deixar seus lares por conta da degradação do meio ambiente e pede que os governos se planejem com antecedência na tentativa de reduzir os riscos de desastres naturais.

Para o representante do Unfpa no Brasil, Harold Robinson, é urgente que a questão das mudanças climáticas seja vista sob um novo enfoque: o da relação entre clima, população e gênero. O ponto central, segundo ele, é que as mudanças climáticas não são apenas uma questão ambiental, mas um problema humano provocado pela atividade humana.

Robinson destacou evidências do aquecimento global provocado pelas emissões de gases de efeito estufa – os dez anos mais quentes foram registrados nos últimos 12 anos e os desastres naturais dobraram nas últimas duas décadas, com uma média de 400 ocorrências ao ano. “Há um impacto direto sobre o bem-estar da população mundial”, avaliou.

O representante da organização ressaltou que as mudanças climáticas são a ameaça que afeta a humanidade de forma mais desigual, uma vez que atingem quem menos contribuiu para a sua ocorrência – os mais pobres e os mais vulneráveis. Dados do relatório indicam que apenas 3% do total dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera, por exemplo, são emitidos por essa parcela da população.

A coordenadora do Unfpa no Brasil, Taís Santos, lembrou que as mudanças climáticas são fato posto, já que estão em pleno andamento. “As pessoas são responsáveis, são afetadas e precisam se adaptar”, disse, referindo-se ao homem como o único agente capaz de interromper as alterações de clima.

Taís acredita que o que se pode fazer atualmente é adotar comportamentos proativos que considerem todas as dimensões do problema. Ela avaliou que os investimentos em tecnologias mais limpas ou mais verdes, por exemplo, podem contribuir, mas que o problema é bem mais complexo.

Mulheres serão mais afetadas

O Relatório aponta ainda que as mulheres – maioria entre o 1,5 bilhão de pessoas que sobrevivem com US$ 1 ou menos por dia – sofrem as piores consequências das mudanças climáticas.

O representante do Unfpa no Brasil explicou que as mulheres pagam os preços mais altos em termos da perda de colheita, falta de água e destruição de habitações, uma vez que são maioria da força de trabalho na agricultura, têm menor acesso a trabalho e à renda e apresentam menor mobilidade. “Elas estão mais vulneráveis aos desastres ambientais”, disse.

O documento, intitulado Enfrentando um Mundo em Transição: Mulheres, População e Clima, mostra que os investimentos que permitem às mulheres o empoderamento (tradução da palavra inglesa empowerment, que significa dar poderes de decisão, participação e autonomia a uma pessoa), sobretudo nas áreas de educação e saúde, fortalecem o desenvolvimento econômico e reduzem a pobreza, provocando impactos positivos sobre o clima.

Como bom exemplo, o documento da Unfpa destacou o empreendedorismo feminino em Bangladesh. Na cidade indiana – que sofre regularmente com chuvas e enchentes –, um grupo de mulheres sugeriu, como forma de adaptação às mudanças climáticas, a troca da criação de galinhas por patos.

A poucos dias da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Copenhague (Dinamarca), a Unfpa cobrou uma negociação global sobre o clima baseada na igualdade e nos direitos humanos.

Foto: O representante do Fundo Populacional da Organização das Nações Unidas no Brasil, Harold Robinson lança o Relatório sobre a Situação da População Mundial 2009.

Crédito: Marcello Casal Jr/ABr


Fonte: Envolverde

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