terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Honduras lidera índice de risco climático

Honduras lidera índice de risco climático

Nos últimos 28 anos, Honduras sofreu, mais do que quase todos os demais países do mundo, os efeitos de eventos climáticos extremos, diz um estudo sobre as perdas causadas por fenômenos meteorológicos, divulgado durante a cúpula mundial do clima. Em todo o mundo, tempestades, inundações e ondas de calor causaram perdas que chegam a US$ 1,7 bilhão, além de 600 mil mortes, segundo o Índice de Risco Global do Clima 2010. Simultaneamente, a Organização Meteorológica Mundial anunciou, em Copenhague, ser muito provável que a década 2000-2009 tenha sido a mais quente desde que teve início o registro de temperaturas, em 1850.

Este ano, ocorreram ondas de calor extremo na Índia, norte da China e Austrália, e também foram mais frequentes as temperaturas muito elevadas no sul da América do Sul, mostra o Índice. “Nossas análises demonstram que, em particular, os países pobres são severamente afetados” por eventos meteorológicos extremos, afirmou Sven Harmeling, da Germanwatch, uma organização não governamental alemã que promove a igualdade e a preservação dos meios de vida desde 1991. Honduras, Bangladesh e Birmânia são os três países que sofreram a maior combinação de mortes e perdas econômicas entre 1990 e 2008, segundo o Índice. No futuro, isto vai piorar, na medida em que a mudança climática intensificar as tempestades, inundações, secas e ondas de calor, disse Harmeling, autor do Índice, em um comunicado.

Durante milênios, as concentrações de carbono na atmosfera foram, em média, de 260 partes por milhão (ppm), mas nos últimos cem anos aumentaram para 387 ppm, o que faz com que mais calor solar seja capturado, intensificando o efeito estufa natural. Essa energia extra aumenta as temperaturas mundiais e produz mais eventos climáticos extremos, dizem os cientistas. Nesse contexto, é crucial que a 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), que está acontecendo de 7 a 18 deste mês em Copenhague, proporcione um financiamento de longo prazo para ajudar países vulneráveis como Honduras a adaptarem-se, disse ao Terramérica Christoph Bals, diretor político da Germanwatch. “É importante que os negociadores compreendam que as cem nações mais pobres são responsáveis por menos de 5% das emissões, mas são as mais afetadas”, destacou.

O Índice reflete o impacto distinto que sofrem os países de uma mesma região. Isso pode ser útil para que os governos vejam o quê e como fazem seus vizinhos, e compartilhem informação sobre os registros que organizam. A centro-americana Honduras pode tomar como exemplo a ilha caribenha de Cuba, porque esta lida muito bem com a prevenção de eventos climáticos extremos, disse Bals. Uma das surpresas que aparecem no informe é o péssimo desempenho dos Estados Unidos, principalmente em termos de mortes por fenômenos como furacões. “Nos Estados Unidos, os afetados são quase totalmente os mais pobres”, ressaltou. O Índice revela também um padrão: os países industrializados que apresentam grande desigualdade entre ricos e pobres são mais vulneráveis do que aqueles onde essas brechas são menores, destacou Bals.

“Em geral, são os pobres os que mais sofrem em quase todas as nações”, acrescentou Bals. O Índice utiliza dados fornecidos pela base NatCatSERVICE da Munich Re, uma das maiores empresas mundiais de seguros. Trata-se de uma medição dos efeitos diretos de desastres extremos, em termos dos impactos sobre a infraestrutura e quantidade de mortes. Uma das principais desvantagens do Índice é que não registra impactos menores no longo prazo, como períodos secos prolongados, desertificação ou perda de acesso a água pelo derretimento de geleiras, o que reduz de maneira significativa a produção alimentar e aumenta as doenças. Portanto, nenhum país africano figura entre os dez mais vulneráveis desta lista.

O Índice não pinta um panorama preciso da vulnerabilidade africana à mudança climática, disse Saleemul Huq, especialista em adaptação do Instituto para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, com sede em Londres, e um dos principais autores dos informes do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) em matéria de adaptação. “Não posso avaliar os impactos sobre a economia ou sobre os meios de sustento, pois simplesmente não há dados para fazer isso”, afirmou Huq ao Terramérica.

Segundo Gordon McBean, do Instituto para a Redução de Perdas Catastróficas da Universidade de Ontário Ocidental, do Canadá, “o Índice está fundamentado em dados do passado e, portanto, não é uma projeção linear dos futuros impactos climáticos. Precisa ficar claro que este é um índice de riscos de eventos extremos relacionados com a mudança climática, não um índice exaustivo de riscos da mudança climática”, disse McBean ao Terramérica, em entrevista concedida por correio eletrônico.

As avaliações da vulnerabilidade à mudança climática adquirem renovada importância agora, quando parece seguro que haverá um fundo de pelo menos US$ 10 bilhões anuais para ajudar os países a amortizarem os impactos do aquecimento global. É possível que esse fundo chegue a US$ 500 bilhões ao ano. Bangladesh já disse que quer 15% desses US$ 10 bilhões. Porém, decidir como dividir esse dinheiro não é uma questão de ciências exatas, mas de decisão política, que cabe ao Grupo dos 77 (integrado por 130 nações em desenvolvimento), disse Huq.


Fonte: Carbono Brasil.

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